Frase do narrador Bachin Júnior dos canais Sportv, ao comentar sobre o seu grande ídolo na narração esportiva
Ailton Miranda
Natural de Santa Bárbara
d’Oeste/SP, com 35 anos de profissão, o narrador Bachin Júnior, dos canais
Sportv e PFC (Premiere Futebol Clube) numa entrevista exclusiva fala sobre sua
carreira, suas referências na profissão, seus hobbies nas horas de lazer, sobre
o futebol do interior e também do atual momento da seleção brasileira. Confira
abaixo a entrevista:
Ailton
Miranda: Quando você decidiu ser jornalista?
Bachin Júnior: A escolha da profissão, não se deu com uma
antecedência muito grande. Desde pequeno eu nutri o desejo de ser engenheiro,
especialmente, engenheiro agronômico e tinha este pensamento até a beira da
faculdade, inclusive os primeiros vestibulares que prestei foram para
agronomia. Quando eu estava estudando
num cursinho preparatório de vestibular, acabei conseguindo meu primeiro
emprego numa loja de material de construção onde trabalhava Jota Alves, que
além do emprego na área comercial, também trabalhava na Rádio Brasil, aqui em Santa Bárbara d´Oeste, apresentando um programa de
esportes nos finais de tarde. Ele me convidou para trabalhar aos domingos como rádio
escuta. Muito rapidamente fui tomando gosto pela coisa e me inscrevi em
vestibulares que propunham curso na área de comunicação social. Passei na
UNIMEP e PUC-Campinas. Em 1982, ingressei na UNIMEP.
AM: Como foi a escolha pelo Jornalismo esportivo?
BJ: Na
verdade, Por essa coincidência da minha primeira oportunidade no rádio ter sido
na área esportiva. Minha vida sempre foi marcada por situações inusitadas, um
belo dia, o titular do programa “dois toques”, Jota Alves teve uma fatalidade
na família e os outros profissionais da área esportiva da rádio, tinham viajado
para cobrir o jogo do União numa cidade distante, não restando alternativa ao
chefe de equipe, ele perguntou ao técnico de som, se o menino que trabalhava
como rádio escuta ainda estava trabalhando. Com 17anos, a voz trêmula e as
pernas bambeando, assumi a apresentação do programa. Após este dia, fui
convidado pelo diretor para trabalhar na rádio.
AM: Uma retrospectiva da sua carreira?
BJ: Em
2015, completei 35 anos de profissão. Comecei minha trajetória na Radio Brasil
em Santa Bárbara, depois trabalhei nas cidades de Americana (Rádio Cultura FM,
Rádio Clube, Rádio Azul Celeste e Rádio Notícia). Trabalhei também em Limeira
na Rádio Jornal. Depois, durante três anos trabalhei na TV Século 21 narrando
jogos da seleção brasileira de máster a convite do ex-jogador Zenon. Durante
cerca de 20 anos, trabalhei na rádio Santa Bárbara FM, uma rádio educativa
pertencente à prefeitura onde fui apresentador de programas musicais,
jornalísticos, e narrador, tendo o prazer de narrar o primeiro acesso do União
em 1998.
Trabalhei
também na Tv Cultura, de Santa Bárbara por 14 anos, como apresentador de
programas esportivos e jornalísticos. Essa passagem na televisão foi uma grande
experiência e que me deu base para chegar onde estou hoje, no Sportv.
Como mencionei antes, na
minha vida as oportunidades foram surgindo de maneira inusitada. Assim como na rádio
Brasil, em 2009, tive o pedido para fazer um jogo como freelance
no Sportv, atendendo a um pedido do amigo Jota Júnior, que também é companheiro
de canal. Ele teve um problema emergencial de saúde e me lingou pedindo se ele
podia me indicar. Palmeiras e Ituano jogariam em Piracicaba, na abertura do
campeonato paulista de 2009. Depois deste jogo fiz um contrato de experiência
por três meses, sendo dispensado no fim do contrato. Em 2011, surgiram mais
convites e fui atendendo as necessidades do canal, paralelo ao trabalho aqui em
Santa Barbara. Minha efetivação no Sportv ocorreu em junho de 2013 e desde
então trabalho exclusivamente no canal.
AM: Assim como maioria dos narradores que hoje
estão trabalhando na TV, você também teve inicio no rádio. A passagem pelo
radio é essencial para construir uma bagagem e mais aprendizado na profissão?
BJ: Sem
duvidas, o rádio dá ao profissional da comunicação, o dom do improviso. Essa
necessidade de improvisar a todo o momento, lapida melhor o profissional da
comunicação. Quem começou na televisão e vai para o rádio, enfrenta uma
dificuldade maior de adaptação, vai demandar um tempo um pouco maior. Por isso,
a escola do rádio é fantástica para quem planeja no futuro, chegar à televisão.
AM: Trabalhar no Sportv é o objetivo da grande
maioria dos jornalistas esportivos, estando no canal é o seu auge ou ainda tem
um sonho a realizar?
BJ: Eu
confesso que na verdade nem esperava esta oportunidade tão grande, mas surgiu, eu
a abracei e hoje me sinto muito orgulhoso e com muita responsabilidade por
estar integrando a equipe da maior emissora de televisão do pais. Ao mesmo
tempo, aumenta em muita a responsabilidade a cada transmissão, a cada evento
que sou escalado, procuro me aprimorar cada vez mais e deixar um legado aos
jovens que estão começando.
AM: Como funciona a preparação para a transmissão
de um jogo?
BJ: Nos
recebemos a escala na maior parte das vezes com relativa antecedência, de uma
semana a 10 dias. Em situações emergências não, o narrador acaba sendo escaldo
de um dia para o outro. Por exemplo, hoje eu estou conversando com você e até
ontem à noite, a escala previa que eu apenas faria o jogo Ponte Preta e Figueirense
na quarta-feira em Campinas, mas ontem já houve um remanejamento de escalas e
além deste jogo, na quinta faço Santos e Flamengo na Vila Belmiro.
A
partir do momento que sai a escala e o evento que vou transmitir começo o
processo de busca de informações. Através da internet, entro nas páginas
oficiais dos clubes e vou buscando aquilo que é de mais importante. Há também
uma empresa que presta serviços para os canais da rede Globo que oferece aos
profissionais, uma pesquisa do confronto diretamente. Ali também temos como
base algumas informações e pego um pouco daqui um pouco dali, o que é mais
importante, levo pro jogo e conforme o jogo apresenta o gancho, vou
introduzindo as informações ao longo dos 90 minutos.
AM: Como surgiu o bordão “balançou” que é sua marca
antes da narração de um gol?
BJ: Eu
passei uns 50% deste meu curto período no Sportv fazendo uma narração mais
padrão e sem a utilização de nenhum bordão. Tem alguns narradores que tem o uso
dos bordões como uma marca. Na casa mesmo
temos o Milton leite que é um dos maiores narradores do pais e a transmissão
dele é baseada em bordões. As pessoas que gostam do meu trabalho, que me
acompanham nas redes sociais me questionavam que eu precisava criar um bordão que
me caracterizasse. Pensei bem e entendi que isso poderia ser necessário, mas
calmamente, pensei, uma hora em determinado momento isso vai acontecer.
Fui escaldo um dia para fazer um jogo entre
Cruzeiro e vitória no Mineirão pelo campeonato brasileiro, estava no hotel
estudando o jogo e me veio à mente algo que quando a bola entra, o que emociona
muitas vezes é ver a rede balançando, o balançar das redes é que faz o torcedor
se emocionar e na verdade é o que caracteriza o gol. Veio-me a mente algo como
balançou e pensei como utilizar isso.
Fiquei pensando e decidi que era naquele dia que
ia testar esta frase curta, esse bordão, Após o gol, antes do grito de gol, vou
introduzir o balançou e neste jogo o cruzeiro fez 5 a 0 no vitória e eu narrei
cinco balançou a cada gol do cruzeiro. Eu ainda acrescentei um segundo bordão
“é nisso que eu acredito” na descrição do lance do gol quando mostra a torcida
vibrando, pois na verdade, se o torcedor está lá, ele está acreditando que o
seu time vai vencer e pra vencer, precisa fazer gol. Hoje eu tenho utilizado
estes dois bordões.
AM: Quais são os narradores que você tem como
referência no rádio e na televisão?
BJ: Começando
pelo radio, onde foi a minha escola, o maior narrador que o rádio brasileiro já
teve e conheceu, foi Osmar Santos, infelizmente já não tem mais condições de
desempenhar sua função após o trágico acidente que sofreu. Tivemos e temos outros
grandes nomes como Fiori Gigliotte, José Silvério, mas nessa linha de
raciocínio e nessa ordem eu não tenho dúvida em afirmar que Osmar Santos foi um
gênio e jamais será superado. Na televisão, não podemos jamais esquecer o
saudoso Luciano do Valle, que foi um espelho para outro grande narrador da
televisão brasileira que é o Galvão Bueno. Em termos de TV aberta, o Galvão é
hoje o maior narrador do Brasil.
Com
o advento dos canais fechados, surgiram também grandes nomes, mas na minha
opinião, Milton Leite e Jota júnior são os grandes narradores, cada um com sua
característica. O Jota, mais contido, preciso, claro, objetivo, sendo
inquestionável a sua narração e uma escola para todos nós. O Milton trata com
mais leveza uma partida de futebol, um jogo chato se torna agradável e um jogo
agradável se torna espetacular.
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